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sábado, 27 de dezembro de 2008

Meus Escritos - Delírio


Domingo. Uma fria tarde. Ele sentia-se só,
muito só. Não existe nada pior que a
solidão e a tristeza, juntas em um dia frio.

Uma vontade imensa de abraçar sua Mãe,
já frágil pelo peso da idade. Ouvir sua voz, sentir
seu cheiro. Mas não mais podia, pois o
tempo e a distância que os separava era grande.
Sua Mãe partiu, acolhida nos braços de
sua esposa há anos, longos anos.

Então, dirigiu seus pensamentos e a vontade de
abraçá-la para seu Pai, amargurado pela morte da
esposa, amargurado pela solidão após décadas
de viver à dois e com a alma perturbada
por muitas desavenças familiares pelas filhas causadas.
Abraçando-o, conversando com ele,
talvez abrandasse sua grande saudade.
Mas já era tarde também. Seu Pai partiu dois anos
após a morte de sua Mãe.

Solidão, frio e tristeza. Mas tinha ainda
irmãs, cunhados, sobrinhos e sobrinhas,
tinha ainda sua família. Iria visitá-los,
esquecer a solidão que o afligia,
matar a imensa saudade dos almoços e dos
churrascos aos domingos, jogando conversa fora.

Primogênito. Sempre teve amor por
eles. Talvez não soubesse demonstrar,
embora tivesse sido um bom filho, um bom irmão,
apoiando-os moral e financeiramente ao precisarem,
mas eles eram sua família e as recordações eram
muitas, boas e más. Mas também era tarde.
Intrigas de suas irmãs, tornaram-no um banido.

Apenas divagava, delirava, mas
aos poucos, à realidade voltou e a verdade
aflorou em seu olhar entre lágrimas silenciosas
e cruéis. Estava só, não mais tinha ninguém
que o acolhesse, que lhe transmitisse o calor de uma
palavra em uma simples e banal conversa. Idiota.
O que o levava a continuar sonhando? A iludir-se
com a volta de um passado perdido, morto e
repleto de hipocrisia, se agora o sentimento que
por eles nutria era o mais puro asco.

Só, ele iria continuar, pois fora covardemente
banido do seio da família quando mais dela precisou.
Até as lágrimas que corriam por sua face, rolando
em direção ao seu peito vazio não o consolavam,
pois eram frias como a solidão em um frio dia,
frias como o aço, como o desprezo que
agora por eles nutre.

carlos miranda (betomelodia) 

fontes
imagem: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)
base da pesquisa: arquivo pessoal / meus escritos

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