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domingo, 29 de setembro de 2013

Meus Escritos - Expedição Africana

Na selva africana, o povoado em que ele mantinha sua base de operações
parecia ter parado no tempo. Nada se movia, o silêncio era total. Um sol
abrasador, a única coisa sentida naquela tarde modorrenta, fazia com que a
vida parecesse irreal. Se algo não acontecesse logo, acho que ele morreria
de tédio ou afogado no próprio suor.

" Se a temporada acabar e eu não conseguir um cliente,
não sei como pagarei minhas contas... "


Logo ao iniciar o negócio como guia de expedições, teve que comprar
todo o equipamento necessário para substituir o que foi confiscado pelo
governo africano. Alegaram que os mesmos haviam sido introduzidos
ilegalmente no país e assim, ele teve que providenciar os novos.
Sem dinheiro, em um país estranho, deu como garantia seus veículos,
um jeep e um ônibus, adaptado para abrigar a todos enquanto durassem
as expedições. Mas, nada de clientes, nada.

Mas naquela mesma tarde, ele recebeu um telegrama com uma notícia
que o deixou aliviado. Chegando do Brasil, Rio de Janeiro, sua cidade natal,
dois turistas iriam procurá-lo, pois precisavam de guia e carregadores
para uma expedição até uma longínqua cidade, outrora liderada por um
grande imperador. A distância era longa e o percurso pela densa floresta,
era acidentado. Mas enfim, trabalho, dinheiro para pagar os equipamentos!
Aventura! Uma grande aventura!

o entardecer em solo africano

E os preparativos começaram. Uma semana se passou e no dia marcado,
os turistas desembarcaram no aeroporto. Voo como sempre, atrasado,
bagagens misturadas e a irritante demora para vistos e demais procedimentos
legais de entrada no país. Então. depois de algumas "burocráticas" horas,
mil recomendações aos turistas e um breve descanso, ficou decidido durante
o jantar que a expedição partiria na manhã seguinte às seis horas, pois a
temporada de chuvas, aproximava-se.

Equipamentos, mochilas e armas em ordem, às seis horas em ponto iniciaram
a longa jornada. A bússola indicaria a direção através da densa floresta em
que teriam que abrir o próprio caminho, onde a luz do sol quase não conseguia
penetrar. Fariam apenas duas paradas por dia: a primeira para alimentação
e um breve descanso e a segunda, para passarem a noite.

A primeira etapa do percurso transcorreu como o programado. Cinco horas
por mata fechada, atravessando pequenos rios que montanha abaixo jogavam
suas águas, perigosas, caudalosas, principalmente na estação das monções.
Após o almoço e o breve repouso, à caminho novamente.

os temíveis habitantes da savana africana

A subida em direção à cidade perdida era muito íngreme, cansativa. Seus
clientes, não acostumados ao esforço, começaram a reclamar de calor, cansaço
e fome, mas ele avisou que precisavam chegar à base da serra para passarem
a noite. E continuaram pela mata a dentro, até o lugar onde passariam a noite.
E que noite. Mesmo assustados pelos ruídos noturnos da selva, dormiram.

Na manhã seguinte, seis horas, já estavam prontos para a etapa final, a subida
da serra que estava entre eles e o destino da expedição. Começaram a subir.
Preocupado com o tempo muito carregado de pesadas nuvens, reuniu
o grupo, conversaram com os carregadores e resolveram escalar um pequeno
rochedo para seguir rumo ao destino, cortando caminho.

" Puxa, que tempestade vai vir! Vai ser difícil levar todos
até lá em cima, mas é a única opção, o único abrigo está lá."

À frente do grupo, com seu sócio à retaguarda, viu que não ia ser fácil pois
a pedra estava muito escorregadia e seus clientes, assustados. Mas chegaram.
Então um incidente preocupante aconteceu. O chefe dos carregadores,
ao cuidar das cordas, escorregou na pedra molhada e com limo. Deixou-as
cair paredão abaixo quase indo com elas. E agora? Todos, em silêncio,
trocaram olhares apreensivos. Estavam com muito medo pois a chuva era
na realidade uma forte tempestade, e sem as cordas, não poderiam continuar a
subida e tampouco descer. Estavam isolados em uma pequena plataforma.

a encosta do morro açú

Droga! A brincadeira perdeu a graça, a aventura mais uma vez, não estava dando
certo. Mas tinha tudo para dar certo!  "Merda de chuva!", ele gritava, chutando
as mochilas, as pedras e a forte chuva. "Bosta de chuva! E você tinha que
deixar as cordas caírem! E agora? Como vamos sair daqui?" Seus primos, os
"turistas", começaram a chorar e seu melhor amigo, de muitas e muitas aventuras,
cabeça baixa, só sabia pedir desculpas aos berros.

Bem, passaram aquela tarde e a noite na pequena plataforma do Morro Açú,
vendo as luzes das cidades lá em baixo com a Baía da Guanabara ao fundo, por
entre a forte chuva. Molhados, com frio, apavorados com a violência da
tempestade, sem saber como sairiam dali, choraram em coro. Ele, mais velho,
quatorze anos era o responsável por seu amigo e primos nas "selvas africanas",
arrependido e com medo pensava:.

"Mas que droga, só me meto em encrenca. Tenho uma enorme
coleção de castigos por isso."

Ao clarear o dia, chuva passada, um lindo amanhecer, talvez o mais bonito
que ele já tinha visto e a pergunta era: como sair dali sem as cordas para
subir ou descer? A resposta estava ao seu lado esquerdo: a plataforma
continuava em direção à Teresópolis e eles estavam completamente fora
da rota que pretendiam seguir. Estavam a pouca distância da estrada
Rio-Teresópolis, na serra, não tão longe de Parada Modelo, de onde partiram.

o dedo de deus, próximo a teresópolis

Eles não estavam no Morro Açú! Mas não disse nada. Ficou quieto e
juntando as coisas que sobraram, voltaram ainda molhados e bem sujos,
sem as cordas que ele havia comprado deixando a sua bicicleta,
o "jeep", como garantia de pagamento. Adeus bicicleta e mais uma surra.

Sua coleção de castigos aumentou, seus primos também tiveram os seus,
assim como seu amigo, o dele. Mas até que valeu a pena. A culpa foi dele
pois se não tivesse invertido o mostrador da bússola, quando ele a desmontou
para ver como era dentro, talvez tivessem chegado até a cidade serrana de
Pau Grande, onde nasceu Garricha.

"Manelzinho, na próxima vez, vou levar uma bússola melhor. E mais corda.
Tá legal, tá legal... não vou mais mexer na porcaria da bússola."

carlos miranda (betomelodia) 

fontes
imagens: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)
base das pesquisas: arquivo pessoal / meus escritos


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