O motivo que levou-me a adaptar e publicar esse conto em meu blog, foram cenas do cotidiano que me fazem pensar sobre a natureza humana. Achei um folheto com um conto em minha caixa de correspondência. Li, e após a leitura decidi fazer esta adaptação, pois era de conotação religiosa, o que suprimi. Mas algo está mudando. Gratificante é saber que apesar de nossas fraquezas e falta de civilidade, de humanidade, estamos abrindo nossos olhos para aqueles que nos cercam vivendo em condições precárias, desumanas, incompatíveis com nosso atual estágio de evolução moral. Soluções existem e embora ocultas pelo egoísmo e ganância, vão pouco a pouco saindo de sob a manita da ignorância e da comodidade. Pequenos mas importantes passos estão sendo timidamente dados, para uma longa estrada a ser trilhada por todos nós, a estrada do amor ao próximo.
carlos miranda (betomelodia) ™
Passavam por mim como se eu não existisse.
Você passou olhando-me com simpatia, talvez buscando o
motivo que me fez vagar pelas ruas,
mas acelerou o passo e desviou o olhar ao notar
que eu ia lhe dirigir a palavra. Desisti de fazê-lo e comecei a
passear pelos seus pensamentos. Será que
você achou que parei de trabalhar, passando
então, por preguiça, sei lá, a mendigar?
Não, não desisti e ainda hoje me cansei muito
procurando trabalho de porta em porta.
A maioria dos que me atenderam, disseram que
ultrapassei a idade de produzir, de trabalhar para
conseguir com dignidade o meu sustento.
Condenaram-me à inutilidade.
Outras, ao me verem mal vestido, ignorando que minhas
melhores roupas vendi para tratar minha mulher doente,
mandavam-me embora com pressa sem sequer ouvir-me ...
Chamaram-me vagabundo...
Fiquei envergonhado ao perceber que você viu o policial
me dirigir as mais duras ofensas e ameaças,
expulsando-me da frente da vitrine como se bandido
eu fosse. Não tive a intenção de roubar. Olhava
os alimentos ali expostos pensando em meus
filhos abraçando-me com fome, quando volto para casa ...
Senti-me incapaz...
Não pude reparar se você viu , ouviu, os gracejos e insultos
que recebi ao me apoiar no poste próximo,
tremendo e chorando humilhado. Todos se afastavam
de mim com nojo, com desprezo e não tive
força nem coragem para falar que não comia há três dias...
Taxaram-me bêbado...
Não senti julgamento em seu olhar. Foi apenas um olhar.
Então eu peço à você apenas o som de sua voz,
sua compreensão. Que você me ajude a reencontrar
minha auto-estima, para que assim eu possa honrar com
alegria o dom de viver. Fale comigo sem piedade, sem asco,
para que eu possa sentir que sou seu irmão e
que apesar de todo meu sofrimento, de toda minha
dor, sou ainda um ser humano...
dor, sou ainda um ser humano...
autor desconhecido
texto: adaptação de 'mensagem de um homem triste'
base das pesquisas: arquivo pessoal / meus escritos
base das pesquisas: arquivo pessoal / meus escritos
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