A postagem de hoje é sobre uma composição de Caetano Veloso, que muito foi
por mim interpretada: Sampa. Pelos palcos em que perambulei, cantando
qualquer outra música dele, em seguida vinha o pedido para que eu a cantasse.
Traz lembranças dos lugares da cidade onde morei por muitos anos, para mim
narrando o que senti ao mudar-me do Rio de Janeiro para lá. Só não menciona a
fina garoa que de tão forte e constante ensopava totalmente meu sobretudo no
inverno. Morei a uma quadra do cruzamento das avenidas Ipiranga e São João
e com o tempo, fiquei fascinado pela grandeza e diversidade da cidade.
caetano veloso e maria gadú |
Esta música traz muitas realidades em sua letra. O mais impressionante é
o assombro que toma conta de quem pela primeira vez passeia por suas ruas, em
meio à sua grandiosidade e uma constante confusão de pessoas, apressadas
em um vai e vem constante, oprimidas pelos altos prédios que as margeiam.
Mas aos poucos a cidade cativa a todos com beleza e poesia. No vídeo ilustrando
esta postagem, Caetano e Maria Gadú fazem ao cantar uma homenagem à maior
cidade brasileira, a capital do Estado de São Paulo, carinhosamente
chamada por seus moradores de... Sampa.
carlos miranda (betomelodia) ™
( vídeo em 360p )
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi de mau gosto mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos Mutantes
E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas nas vilas favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos espaços
Tuas oficinas de florestas teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa
caetano veloso
fontes
imagens e vídeo: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)
base das pesquisas: arquivo pessoal / google