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dedo de deus - magé, rj |
Teclado à frente. Pensamento lá para trás notempo e no espaço, em um mundo agora tão diferente e
distante. Mãos inertes, o monitor estático, aguardando.
Impaciente. A imagem do protetor de tela apareceu.
Uma dança da memória. Único movimento no ambiente.
Palpáveis recordações brotaram então.
Noite. Olhando pela janela de seu estúdio, observaas nuvens tingidas de vermelho pelas luzes da cidade.Parece estar em outro planeta. Céu vermelho é diferente,mexe com a imaginação. Surrealismo e nostalgia. Guapimirim, Parada Modelo, Magé, Teresópolis,nomes que sempre surgem em suas lembranças.
Lugares em que viveu, em que conquistou a liberdade aos 14 anos,e que muitas recordações de aventuras e descobertas,ele com carinho guarda e busca, como apoio em suasolidão, em seu abandono. Boas lembranças quemarcaram sua vida para sempre.
Havia uma estrada de ferro que a serra vencia,levando, trazendo passageiros e coisasem seu ir e vir. Mas ele não chegou a ver sequeros seus trilhos, retirados antes de suamudança para Parada Modelo. Deles, guiasseguros das locomotivas e vagões, só históriasouviu contarem e, saudades nas narrativas dosmoradores locais ele percebia. Não, ele não entendiaainda o motivo da extinção de algo tão bom enecessário, às pessoas que ali moravam.
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a estrada de ferro |
Disseram os mais velhos das belezas naturaisque pelas janelas dos vagões eram descortinadas, ao
recordarem sua construção em narrativas bonitas, poéticas
e interessantes das obras que iniciadas em 1901,
tiveram sua conclusão em Teresópolis no
ano de 1908. Lamentaram a desativação
em 1957, despertando sua curiosidade sobre o local.
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ponte sobre o rio paquequer em 1925 |
Resolveu verificar as histórias e subiu o leitoabandonado da antiga estrada de ferro.Foi em meio ao silêncio e a uma brisa suave, que sentou-see bebeu em grandes goles a beleza da paisagem.
Admirado ficou, imaginando a ousadia dos homens,
ao abrirem por tão acidentada região, caminho para uma
ferrovia, a engenhosidade para vencer grandes desafios,
a conquista da Natureza em nome do progresso.
Hoje, ao lembrar o abandono daquele belo trabalho, ele
pensa que deveria ter sido preservado como homenagem
aos seus idealizadores e construtores.
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aterro que resistiu ao tempo |
Não completou todo o percurso, o cansaço e o medo
de atravessar os restos da ponte sobre o Rio Paquequer
venceram, e ele pôs-se a descer , a fazer o caminho de volta,
mas não sem sentir-se um verdadeiro desbravador,
a imaginar que a vida em um lugar tão bonito e diferente,
Parada Modelo, haveria de ser muito boa e proveitosa.
E foi... foi o início de muitas aventuras.
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ruínas da ponte sobre o rio paquequer |
Ao chegar em casa, final de aventura, levantou os olhoscom respeito à serra que havia acabado de visitar e
saudando o entardecer, prometeu a si novas e
emocionantes expedições...
carlos miranda (betomelodia) ™
Publicou a "Primeira Expedição", salvou seus arquivos,
recolheu o teclado, desligando em seguida o
monitor. Levantou de sua poltrona, olhou para seu
pequeno mundo e apagando as luzes, apagou
a si e as suas memórias até a manhã seguinte...
fontesimagens: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)base das pesquisas: arquivo pessoal / meus escritos