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domingo, 3 de abril de 2016

Caetano Veloso, Reconvexo


Nesta publicação, trago uma composição com muito swing baiano, autoria de Caetano Veloso, lançada
por sua irmã  Maria Bethânia no ano de 1978, no álbum "Maria Bethânia: ao vivo", faixa 21. Com
novo arranjo e muito swing, Caetano dá show de interpretação e prova que a boa Música
é imorredoura. Reconvexo, termo por criado e muito criticado pelos gramaticistas à
época, é uma resposta ao polêmico  Paulo Francis,  jornalista que residia em
Nova Iorque e de lá escrevia textos jornalísticos sempre destrutivos e
virulentos sobre a sociedade brasileira,  os intelectuais, artistas
e políticos (quanto aos políticos hoje dou-lhe plena razão).

Em Roma, queria compor uma Música para Bethânia gravar e estava muito irritado com o jornalista por
suas críticas, os nervos à flor da pele clamavam por uma resposta.  A composição nasceu de um
modo inusitado. Certa manhã em  Roma, e na companhia de dois amigos italianos, ele viu
que os carros estavam cobertos por areia e perguntou o motivo, eles responderam
ser areia do Deserto do Saara trazida pelos ventos. Foi o motivo primeiro da
origem temática da Música, mas o motivo principal da composição foi a
vontade de esnobar Paulo Francis.  E na letra, resposta clara e
evidente aparece ao enaltecer a cultura do Brasil. Vejam.


Para melhor compreensão da letra:


- A matriarca da Roma Negra: nas décadas de XX e XXX do século passado,  Aninha de Afonjá foi uma expressiva Ialorixá do Estado da Bahia, descendente da Nação Grunce, que assim chamava Salvador por ser a metrópole com maior número de negros fora da África;
- Henri Salvador foi compositor, guitarrista e cantor originário da França, que morou na cidade do Rio de Janeiro,  e é considerado um dos precursores da Bossa Nova;
- Olodum, bem conhecido bloco-afro presente no carnaval baiano que agita o Pelourinho e é ponto de turismo, cultura e lazer em Salvador;
- Andy Warhol, famoso pintor e cineasta norte americano, participante do movimento pop-art, e a risada refere-se ao deboche irônico da sociedade moderna;
- Gitá Gogoya, nada mais nada menos que uma alusão à Música Gitá de Raul Seixas e uma alusão à canção folclórica Fruta Gogoya, gravada por Gal Costa;
- Dona Canô nem precisa de explicação, pois é a mãe de Caetano e de Bethânia;
- Joãosinho Beija-Flor, maranhense, baixinho, magro e de língua presa que foi coreógrafo do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e carnavalesco em várias Escolas de Samba do Rio;
- Bobô, um morador de rua de Santo Amaro, muito elegante no vestir e se portar, que a todos deixava admirados por sua elegância, apesar de ser um morador de rua, e agora...
- A cartada final na letra, esnobando, descartando Paulo Francis e sua falta de brasilidade: "Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo."
Genial. Vamos ao vídeo.

carlos miranda (betomelodia) 


Eu sou a chuva que lança a areia do Saara sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança a destemida Iara água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega você nem chega a me ver
Meu som te cega careta quem é você
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não que não e nem disse que não

Eu sou um preto norte-americano forte com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música a mais velha a mais nova espada e seu corte
Sou o cheiro dos livros desesperados sou Gitá Gogóya
Seu olho me olha mas nem me pode alcançar
Não tenho escolha careta vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo

caetano veloso


fontes
imagem e vídeo: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)
base das pesquisas: arquivo pessoal / google

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